segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O que é este blog?


Entre os dias 26.11 e 04.12.09, os alunos de Teoria e Crítica da Arquitetura, do curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal de Uberlândia, viajaram para a cidade de São Paulo, no intuito de conhecer a cidade pela sua arquitetura.
Posteriormente, nos foi solicitado criar um blog para compartilhar nossas impressões, sensações e constatações sobre a cidade de São Paulo, sob a forma de um roteiro comentado.
Eu não estava nessa viagem, não pude me ausentar de Uberlândia. Então comecei a pensar como compartilhar impressões que eu não tive, ou sensações que não senti? Se pelo menos eu estivesse naquela viagem ...
Então surgiu esse blog. E se eu estivesse naquela viagem? O que eu teria visto, sentido, constatado? Este não é um roteiro de quem foi a São Paulo, mas de quem gostaria de ir, de ver, de sentir.
Eu me baseio em uma experiência anterior na cidade (há 2 anos atrás), em relatos que ouvi e fotos que vi.

.:. Pinacoteca - Paulo Mendes da Rocha

" Uma intervenção eminentemente técnica, mas que buscou desvendar o que estava lá."

A Pinacoteca foi um projeto de intervenção feito pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Este propôs que a alvenaria do edifício fosse deixada exposta, afirmando as características que marcam o projeto antes mesmo da intervenção ser feita. A ligação entre os ambientes do edifício é feita por passarelas, o que permite uma maior mobilidade dentro do espaço.


No pátio central há uma forte ligação interior x exterior conferida pelas aberturas e pela cobertura transparente, que permite a entrada da luz natural interfirindo nos espaço, formando assim um grande espaço de convivência iluminado.


Se eu estivesse naquela viagem teria conhecido esse edifício. Gostaria muito de conhecê-lo, porque vejo nessa intervenção de Paulo Mendes uma grande influência do trabalho de Lina Bo Bardi no SESC Pompéia, quando são deixadas evidentes as ações tomadas, não sendo intuito do arquiteto mascará-las.



A intervenção realizada trouxe a luz um edifício até então "invisível", de arquitetura neoclássica, encravado numa região deteriorada da cidade de São Paulo, transformando-o em um dos museus mais modernos do país. O respeito do arquiteto pela obra existente chama a atenção para esse projeto. De todos os projetos do arquiteto Paulo Mendes, este é o que eu mais gostaria de ter conhecido.


"Agora é possível visitar o prédio como só as andorinhas podiam fazer, não precisa mais ficar circundando os pátios como num convento"

.:. FAU - Vilanova Artigas




Na minha primeira viagem a São Paulo não tive a oportunidade de conhecer o prédio da FAU. Esse edifício foi projetado por Artigas e realizado em concreto armado. Ainda que atualmente apresente muitas patologias e tenha sofrido algumas intervenções, é inegável a beleza e a leveza desse prédio.



Se eu estivesse naquela viagem poderia vivenciar o banho de luz que a cobertura do edifício proporciona naquele ambiente sem paredes, de muitos níveis, rampas. Um local que é apropiado pelos estudantes e que, mesmo como todos os problemas que apresenta atualmente, não perdeu a beleza.


.:. Parque Ibirapuera - Oscar Niemeyer

"Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito."



O Parque do Ibirapuera é cartão postal de São Paulo. Trata-se de um conjunto projetado por Niemeyer, no qual estão presentes pontos característicos da obra deste arquiteto: curvas, oca, o vermelho.


Uma grande laje que liga os prédios do parque abriga esposições, manifestações populares. O que percebi na minha visita é que as pessoas realmente se apropriam desse espaço, tem vida sob a laje do Ibirapuera.


No teatro as curvas de Niemeyer são visíveis, a experiência interna dessa espaço é indescritível. "Uau" é a sensação que se tem quando se vê a rampa interna.
O parque abriga também a Oca, que estava fechada quando visitei o local, mas por fora não se tem noção do projeto. Também abriga o prédio da bienal e o MAM (Museu de Arte Moderna).


A simplicidade das formas externas dos prédios que compõe o parque esconde a monumentalidade dessa arquitetura.


.:. Edifício Copan - Oscar Niemeyer

" Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu País, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o Universo - o Universo curvo de Einstein."


 
Se eu estivesse naquela viagem teria conhecido o Edifício Copan, obra de Oscar Niemeyer. A arquitetura modernista pregava a simplicidade das formas, na funcionalidade dos elementos essenciais. Esse projeto rompe de certa forma com essas regras, se mostrando de forma sinuosa, como que se contorcendo entre o emaranhado de prédios a sua volta.


Grandioso em suas formas, dimensões, é um verdadeiro marco da arquitetura modernista brasileira, que eu gostaria de ter conhecido, se eu estivesse naquela viagem.

.:. MASP - Lina Bo Bardi

" Busco um poema de arquitetura ideal."

O prédio do MASP foi minha primeira visita em São Paulo, lá em 2007. Não tem como ficar sob o grande vão e não dizer "noooooooossa". Essa parece ser a reação de todos, ainda mais pensando que foi feito em 1958. É de concreto, mas é leve, flutua.


No espaço de exposições temporárias, duas grandes rampas vermelhas se cruzam, ligando os mezaninos ao átrio, mas quais a leveza do concreto se faz presente. Essas rampas desafiando a gravidade, não tocam as lajes, graças a um engenhoso sistema de pêndulos.


O projeto do MASP é um mix de simplicidade formal e monumentalidade, sendo fundamental para o entendimento da história da arquitetura brasileira.


.:. MuBE - Paulo Mendes da Rocha


" Arquitetura crua, limpa, clara e socialmente responsável"

Me decepcionou um pouco, devo dizer, a visita ao MuBE, de Paulo Mendes da Rocha. Todo em concreto aparente, é exemplar da arquitetura brutalista paulista. Conta com uma área externa para exposições ao ar livre e outra interna. Esta última  muito escura, claustrofóbica.



Foi pensado pelo arquiteto para ceder sua área para a cidade, um lugar onde todos poderiam ter contato com a arte. Na realidade, a área foi cercada e o acesso é controlado. Quando encontramos com o arquiteto na Bienal 2007 ele mostrou bem seu descontentamento com o local.



O jogo de níveis do projeto, a grande cobertura em concreto, e a relação desses espaços com os espelhos d'água, tudo isso é muito interessante de se perceber. Porém o que fiocu do local foi um grande espaço deserto, sem pessoas, sem esculturas, sem vida.

.:. Casinha do Artigas - Vilanova Artigas

" Transferi algumas vivências minhas, de menino paranaense, do sul do brasil, que tem sala e não sabe para quê. A convivência da família brasileira era na cozinha. Enquanto, na casa tradicional paulista, a sala de jantar se dirigiu na direção do ‘living-room’, pelo processo de transformar duas salas em uma, eu fui para a tradição brasileira de integrar a cozinha à sala. Segui caminho diverso. Sei que perdi a parada. Mas minha casa está lá.”


Se eu estivesse naquela viagem teria conhecido a "Casinha do Artigas". Quando essa casa foi construída, o local era todo ocupado por chácaras. A primeira casa, tem um núcleo central hidráulico e da lareira e foi feita numa escala pequena, daí o nome "casinha". As pessoas que ali estoveram, relataram que é simples e cheia de detalhes ao mesmo tempo, e que a visita ao seu interior é interessante para perceber os pequenos espaços projetados pelo arquiteto.


A segunda casa, foi feita em concreto aparente, com fechamento em vidro, numa clara inflência de Frank Lloyd Wright, bem ao estilo moderno. Esta segunda, também pequena, não deixa de ser monumental.

.:. SESC Pompéia - Lina Bo Bardi

“Pensei: isso tudo deve continuar assim, com toda esta alegria”.



O SESC Pompéia eu conheci em 2007 quando estive em São Paulo. Se eu estivesse naquela viagem teria a oportunidade de rever esse grande projeto de revitalização de Lina Bo Bardi. Uma antiga fábrida de tambores transformada em um complexo esportivo e cultural.




Na antiga fábrica vê-se tijolos maciços aparentes. Ali estão os refeiórios, áreas de exposição, e o anfiteatro, áreas que promovem a integração social e promoção cultural.


Os anexos criados abrigam o programa esportivo. Confesso que tenho horror a altura, mas não pude deixar de subir até o alto das torres e apreciar a vista da cidade de suas rampas e dos rasgos nas paredes dos prédios.



.:. Edifíco Harmonia - Triptyque Arquitetos


Se eu estivesse naquela viagem teria conhecido o Edifício Harmonia, do grupo Triptyque Arquitetos. Um projeto instigante, que nos desafia a conhecê-lo melhor. Quem o visitou, afirma que ele se torna simples após uma análise mais atenta. O grupo Triptyque suspendeu dois blocos formando jogos de volumes vazados, semivazados e edificados.

Se eu estivesse naquela viagem teria visto suas persianas de eucalipto, sua passarela que interliga os blocos, sua praça de convivência, suas paredes cobertas por vegetação.

.:. Praça Victor Civita - Levisky Arquitetos Associados

'Praça é volume edificado, que pousa sobre o terreno'

Se eu estivesse naquela viagem, teria conhecido a Praça Victor Civita, que fica na rua Sumidouro bem próximo à Marginal Pinheiros. Já li sobre essa praça e vi algumas imagens, mas adoraria tê-la conhecido pessoalmente.
Este espaço é resultado de uma parceria público-privada, na revitalização de uma área degradada da cidade. É exemplo de uma arquitetura sustentável, não apenas porque usa madeira certificada, mas porque reciclou um espaço velho, descuidado, e o devolveu para a cidade, para ser usado por seus moradores. É um perfeito reflexo do contexto atual, de salvar o planeta, de diminuir os impactos da vida humana na Terra.
A praça tem um forte caráter pedagógico, desde a escolha do terreno (um antigo incinerador de lixo). Foi promovida uma requalificação, mantendo a chaminé do antigo incinerador, para que o espaço possa lembrar que sempre é possível transformar algo ruim, em algo positivo.
Se eu estivesse naquela viagem, conheceria esse belo lugar...

.:. Sala São Paulo - Cristiano Stokler das Neves


Se eu estivesse naquela viagem, teria tido a oportunidade de conhecer a Sala São Paulo, sede da orquestra Sinfônica de São Paulo, que ocupa parte da Estação Júlio Prestes. Com estilo francês, exigiu um esforço de restauração para adaptar uma antiga estação ferroviária em sala de concertos.
Seria um grande prazer poder vivenciar esse espaço, ver o trabalho ali realizado e constatar sua eficácia com a apresentação da orquestra.




.:. Centro Cultural São Paulo - Eurico Prado Lopes, Luiz Benedito Castro Telles



Se eu estivesse naquela viagem poderia ter conhecido o Centro Cultural São Paulo. Quem o conheceu, afirma que é um edifício completamente dinâmico que proporciona ambientes com variadas funções, sendo agradável à permanência nesse local sem que ele se torne monótono e cansativo. Parece ser um edifício aberto, com relação forte com a natureza.


Nas imagens, me chamou muita atenção a estrutura da cobertura e o jogo de rampas que formam o edifício.

.:. Galeria Leme - Paulo Mendes da Rocha


Se eu estivesse naquela viagem poderia ter conhecido a Galeria Leme, de Paulo Mendes da Rocha. Um pequeno volume com iluminação zenital. Todos que visitaram o espaço citam, principalmente, o efeito dessa iluminação no espaço.



.:. Casa Oscar Americano - Bratke


Exemplar da arquitetura modernista brasileira, situada no bairro Morumbi, foi um deleite conhecer essa casa de projetada por Oswaldo Bratke. Vivenciar esse espaço foi uma das melhores partes de minha visita a São Paulo. Gostaria de poder visitá-la novamente e visualizá-la com olhos mais treinados.


Os planos muito bem marcados, seus pilares, panos de vidro, espelho d'água. Juntamente com o parque são um espaço para ser apreciado com calma, vivenciando cada parte cuidadosamente planejada por Bratke.

.:. Galeria Vermelho - Paulo Mendes da Rocha


Se eu estivesse naquela viagem poderia conhecer a Galeria Vermelho, de Paulo Mendes da Rocha. Quem já visitou o espaço, diz que a cada momento que se percorre o edifício encontra-se algo diferente, os espaços e as obras vão se revelando.